Os juros futuros reverteram a trajetória de queda observada nos últimos dois pregões e, no início de uma semana de decisão de política monetária no Brasil, voltam a subir, especialmente em vértices curtos e intermediários. Segundo agentes, o gatilho para a piora no mercado foi a nova elevação nas projeções de inflação do Focus para 2025, que, na visão deles, diminui a probabilidade de um corte de 0,5 ponto percentual na reunião do Copom de quarta-feira.
Perto das 13h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 subia de 10,145% do ajuste anterior para 10,20%; a do DI para janeiro de 2026 passava de 10,32% para 10,425%; a do DI para janeiro de 2027 avançava de 10,625% para 10,72%; e a do DI para janeiro de 2029 saltava de 11,14% para 11,20%.
O Relatório Focus, divulgado nesta manhã pelo Banco Central, apontou que a mediana das projeções dos economistas para o IPCA em 2025 avançou de 3,6% para 3,64%. O movimento que pode despertar um comportamento mais cauteloso por parte do Banco Central, já que as expectativas de inflação para o ano de 2025 - justamente onde está o horizonte relevante de política monetária do Copom - vêm exibindo piora recentemente.
Economistas também passaram a esperar uma Selic maior ao fim do ano de 2024, com a mediana das projeções saltando de 9,50% para 9,63%.
"O mercado está devolvendo por conta do Focus mesmo. Na minha visão, acaba matando um pouco a chance do corte de 0,5 p.p. pelo Copom na quarta-feira. Essa alta do IPCA para 2025, de 3,60% para 3,64%, foi um banho de água fria", aponta o gestor de uma instituição local.
Na visão dos economistas do Itaú, os dados recentes sugerem a necessidade de uma postura mais cautelosa. "Apesar da inflação mais benigna na margem (com surpresas negativas nos últimos indicadores de preços ao consumidor do IPCA e do IPCA-15), as medidas subjacentes de serviços continuam elevadas. Além disso, os dados de desemprego e salários continuam a indicar um mercado de trabalho restrito. A taxa de câmbio se desvalorizou desde a última reunião, com a deterioração dos fundamentos fiscais domésticos e o possível adiamento dos cortes nas taxas de juros nos EUA", avaliam.
O Itaú Unibanco também vê a redução do ritmo dos cortes de juros na quarta-feira. "Esse caminho difere do sinal transmitido na última reunião - consistente com outra redução de 50 bps - mas não será de todo surpreendente à luz das últimas comunicações dos membros do comitê e da magnitude das mudanças observadas desde então. Para as próximas reuniões, esperamos que o Copom mantenha um sinal de dependência dos dados, reafirmando que a maior incerteza exige cautela nas decisões de política monetária", concluem.