A Polishop, do empresário João Appolinário, entrou com pedido de recuperação judicial na semana passada após não ter tido sucesso na tentativa de acordo com credores. A varejista entra na crescente onda de empresas em recuperação, se juntando à rede Dia, Americanas, M. Officer e SouthRock Capital, operadora de Starbucks e Eataly no Brasil.
O momento parece não ser favorável para as empresas. Um levantamento feito pela Serasa Experian mostra que 4 mil empresas terminaram 2023 em processo de reestruturação, com um recorde de novos pedidos registrados. Foram 1.405 pedidos de recuperação judicial feitos à Justiça ao longo do ano passado — um aumento de quase 70% em relação a 2022.
O pedido da Polishop ainda aguarda a deliberação do juiz Paulo de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. Nas últimas semanas, a companhia buscava renegociar as dívidas de R$ 395 milhões com os credores, na tentativa de evitar uma recuperação na Justiça, mas já sinalizava dificuldades nesse sentido. Shoppings centers vinham executando dívidas com atraso no pagamento de aluguéis e estariam mais resistentes a um acordo, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
A rede de supermercados Dia também entrou na leva. Em março, pediu recuperação judicial para impedir que o banco Daycoval bloqueasse seus recursos. Afirmou, também, que a instituição financeira se nega a liberar suas aplicações. A dívida é de R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 986,5 milhões são dívidas sem garantia (quirografária), com fornecedores e transações de antecipação de recebíveis. A dívida com o Daycoval é de R$ 61,7 milhões (sem garantia), sendo que R$ 23 milhões podem ser resgatados de uma linha de certificado de depósito bancário, diz a varejista no processo.
A Southrock, que comanda a operação nacional da Starbucks, Eataly e da TGI Fridays, como licenciado ou franqueador local, entrou com pedido de recuperação judicial em novembro passado com dívidas de R$ 1,8 bilhão. A empresa justificou à Justiça que a crise econômica no Brasil, resultado da pandemia, a inflação e as taxas de juros elevadas agravaram os desafios do negócio.
Com dívida menor, na casa dos R$ 53 milhões, a M. Officer também está em recuperação judicial, desde setembro passado. O desafio maior da empresa, porém, é seu passivo tributário, de R$ 94 milhões. No pedido, a defesa da empresa escreveu que o setor de moda tem enfrentado sucessivas crises ao longo dos últimos anos motivadas por fatores econômicos, pela pandemia e questões concorrenciais, "primordialmente decorrentes da entrada dos gigantes players asiáticos no cenário nacional".
Em janeiro de 2023, a Americanas divulgou em comunicado ter identificado "inconsistências em lançamentos contábeis" nos balanços corporativos, no valor inicial de R$ 20 bilhões.
Ao longo da batalha jurídica entre a empresa e os principais credores, viu-se que o grau de endividamento era o dobro do que havia sido divulgado, chegando a R$ 40 bi na ocasião. Logo, a companhia entrou em recuperação judicial e iniciou o seu longo processo de reestruturação financeira.
A Americanas teve seu plano de recuperação judicial aprovado na virada do ano. As dívidas chegam ao montante de R$ 50,9 bilhões, com o total de 9,4 mil credores de todas as classes (trabalhista, com garantia, sem garantia, micro e pequenas empresas).
CORREÇÃO: Ao contrário do que foi informado anteriormente, a SouthRock não mais comanda as operações da Subway no Brasil. Em novembro passado, a matriz reassumiu a operação local brasileira. A reportagem foi atualizada.